Internada em UTI de SP à espera de coração, menina de 10 anos cria campanha para incentivar doação de órgãos

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Lavínia Machado tem miocardiopatia hipertrófica e está internada há quase 60 dias em um hospital de São Paulo. Pela internet, criança fala sobre a importância da doação para salvar vidas.

“Quando eu chegar na minha casa, vou fazer natação. Eu vou correr, vou pular… fazer as coisas que eu nunca pude fazer.” Este é o desejo de Lavínia Machado Cruvinel, de 10 anos, que está há mais de 50 dias internada em um hospital de São Paulo aguardando por um transplante de coração.

Vivendo na pele a espera por um órgão, a menina resolveu ir para a internet e fazer uma campanha sobre a importância da doação. O objetivo é reduzir a fila de espera de mais de 55 mil pessoas que aguardam por um transplante no Brasil, salvando vidas.

Lavínia é de Medeiros, no interior de Minas Gerais. Com apenas seis meses de vida, a menina foi diagnosticada com miocardiopatia hipertrófica. A doença é rara e provoca um aumento no músculo cardíaco, dificultando o fluxo sanguíneo.

A mãe de Lavínia, Michelle Machado Cruvinel, conta que a filha precisou fazer uma cirurgia aos 3 anos de idade para colocar um marcapasso. Entretanto, a preocupação da família aumentou quando a menina passou a ter desmaios mesmo sem ter se esforçado.

“Ela se sentia mal mais quando fazia algum esforço ou quando estava muito calor. Ela desmaiava. Mas, no ano passado, em abril, ela estava sentada assistindo TV e teve um desmaio”, contou.

Lavínia foi levada para Belo Horizonte e precisou ficar internada por 15 dias. À época, os exames mostraram que a doença tinha progredido. A medicação foi ajustada, e a menina chegou a melhorar.

No entanto, nos últimos meses, Lavínia enfrentou novos desmaios e acabou sendo levada para um hospital em São Paulo, onde está internada em um leito de terapia intensiva (UTI) desde 30 de março.

“No fim de março, ela acordou a irmã e pediu para chamar o papai e a mamãe, porque estava passando mal. Quando nós chegamos na cama, ela estava desmaiada”, lembrou Michelle.

“Trouxemos ela para o hospital, e ela sofreu uma parada. Ficou um dia intubada. Desde então, está na UTI.”
A partir daquele dia, Lavínia entrou na fila para um transplante de coração. Michelle conta que não procura saber sobre a posição da filha na fila de espera para evitar a ansiedade. Não há um prazo para que o órgão chegue.

“Tem pessoas que acham que a gente torce para alguém morrer para salvar minha filha. Não torcemos. A gente torce para que quem já morreu ou para que a família dessa pessoa tenha um ato de amor e salve a vida do próximo”, disse Michelle.

A campanha
Michelle é dentista há 20 anos e, mesmo antes de a filha precisar de um transplante, incentivava a doação de órgãos. O estímulo para defender que as pessoas se conscientizem sobre o assunto passou para a filha.

Em 2018, aos 5 anos, Lavínia foi a representante de Medeiros na campanha “O Brasil Que Eu Quero”, feita pela TV Globo antes das eleições. O vídeo dela passou no Jornal Nacional, e a menina falou sobre a importância da doação.

“O Brasil que eu quero para o futuro é que você olhe para o lado, tenha mais amor no seu coração e avise a sua família: ‘sou doador de órgãos'”, 

Lavínia voltou para a frente das câmeras neste ano para falar sobre doação de órgãos. Desta vez, nas redes sociais. Mesmo internada no hospital, a menina grava vídeos e manda recados sobre a importância de se declarar como doador.

“Eu recebo muitas mensagens de pessoas que falam que gostam de mim. Elas falam que meu coração vai chegar”, contou.

Michelle ajuda a filha na campanha. A rede social de Lavínia também traz histórias de famílias de pessoas que já salvaram vidas por meio da doação de órgãos.

Recentemente, Lavínia e Michelle receberam o relato de uma mãe que doou os órgãos de um filho, que morreu após ser baleado. Segundo Michelle, a mulher disse que foi muito criticada pela família pela doação, mas sentia orgulho pelo fato de o filho ter salvado vidas.

Em outro relato, uma mulher disse que conheceu a história de Lavínia e mostrou para os familiares. A conscientização levou a família a autorizar a doação de órgãos de um parente que morreu. Michelle contou que ficou emocionada.

“Quando você não está esperando pela morte de um familiar e consegue pensar no outro, então você tem muito amor ao próximo. Salva pessoas que não têm nada a ver com você. É um ato de amor mesmo.”

Para ser doador, basta avisar a própria família. Em caso de morte cerebral, a família será responsável por comunicar à equipe médica que o paciente é doador, autorizando a retirada dos órgãos.

“As pessoas sempre têm que pensar no próximo, porque o ato da doação de órgãos vai deixar muitas famílias felizes. A vida precisa continuar”, disse Lavínia.

Fila de espera
Dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), divulgados em março, apontam que 55.386 pessoas aguardam na lista de espera por um transplante no Brasil. Deste total, 1.067 são crianças, sendo que 59 esperam por um coração, como Lavínia.

A maior parte dos pacientes que estão na fila aguarda por um rim. Veja a lista a seguir:

Rim: 30.538;
Córnea: 22.757;
Fígado: 1.302;
Coração: 310;
Pulmão: 167;
Pâncreas: 22.
Entre janeiro e março deste ano, mais de 6 mil transplantes foram feitos no Brasil, segundo a ABTO. De acordo com o presidente do Conselho da ABTO, Paulo Pêgo, as filas de espera são administradas pelas secretarias estaduais da Saúde.

O médico explica que as filas possuem prioridades, que variam de acordo com cada tipo de órgão. No caso de Lavínia, por exemplo, o quadro de saúde do paciente pode influenciar na urgência.

“Dentro dos transplantes de coração, por exemplo, você tem uma prioridade. Há uma fila única, e o que vale é a compatibilidade e a ordem cronológica. Se você piorou e está internado, você tem um grau de prioridade. Se você está precisando de algum tipo de assistência circulatória, como ECMO, o grau de prioridade é máximo”, explicou.

A fila de espera por transplantes cresceu no Brasil nos últimos anos. Pela primeira vez desde 1998, mais de 50 mil pessoas aguardam na fila. Pêgo disse que a pandemia influenciou no aumento pela espera.

“Nos momentos críticos de pandemia, os transplantes quase pararam. Além dos riscos de contaminação, não tínhamos leitos. Em um determinado momento, os leitos estavam ocupados quase que integralmente por doentes de Covid-19, no mundo inteiro”, disse.
Além disso, o aumento no número de diagnósticos de doenças graves também pode influenciar nesse dado.

 

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