Nas últimas cinco semanas em Goiás houve uma invasão de propriedades rurais a cada dois dias. No interior da Bahia ruralistas organizam milícias
Nas últimas cinco semanas em Goiás houve uma invasão de propriedades rurais a cada dois dias. A conta é do governador Ronaldo Caiado. Foram 16 em 35 dias, disse a produtores rurais na segunda-feira (27) em Rio Verde, a 300 quilômetros de Goiânia, um dos maiores centros de produção agrícola do país.
“Traíra”, ouviu-se na plateia. Caiado, um dos mais antigos líderes ruralistas, retrucou: “Nenhuma invasão durou mais de 24 horas.” Pelos registros policiais, todas as manifestações de grupos vinculados ao Movimento Sem Terra (MST) foram desmobilizadas de forma pacífica, sem incidentes.
Um clima de tensão prevalece nas zonas rurais de Goiás, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia.
Na cidade baiana de Gandu, situada 1.300 quilômetros ao sul da goiana Rio Verde, o sindicato rural marcou para amanhã à tarde um debate sobre invasões de terras na região, que tem 77 municípios dependentes do agronegócio.
Como ocorre no Centro-Oeste, no interior da Bahia ruralistas organizam milícias contra o “Abril Vermelho”, ciclo anual de mobilizações do Movimento Sem Terra em defesa de uma política de reforma agrária. A tática usual é a de ocupação de áreas públicas e privadas, tanto rurais quanto urbanas.
Ficou real, porém, a possibilidade de conflitos em zonas agrícolas — onde o país avança para uma safra de grãos com recorde de produtividade: 310 milhões de toneladas, 15% maior que a anterior, colhida numa área plantada com aumento de apenas 3,4% (de 74,5 milhões para 77 milhões de hectares).
O risco foi ampliado por causa do condimento político-eleitoral da derrota de Jair Bolsonaro para Lula em outubro. Parte expressiva dos produtores rurais não apenas cultivou o antilulismo e o antipetismo, como financiou o adversário e mobilizou eleitores.
Lula perdeu, por exemplo, em toda a região Centro-Oeste, por uma diferença de 1,8 milhão na votação. Por coincidência, foi um número igual de votos que, na contagem nacional, garantiu-lhe a vitória — influência da sua grande votação na região Nordeste.
Perdeu, também, no Estado de São Paulo, por uma diferença de 2,6 milhões de votos. E em Minas Gerais viu a sua vantagem no primeiro turno (539 mil) encolher drasticamente na segunda rodada (para 49 mil).
A frustração com a derrota potencializou iniciativas de “resistência” organizada às invasões de propriedades nas áreas agrícolas. Reflete-se, também, na mobilização da bancada ruralista no Congresso para abertura de CPIs contra o Movimento Sem Terra.
A manobra mais avançada ocorre na Câmara, onde prevê-se a instalação de uma comissão de inquérito na segunda quinzena de abril. O MST alega que não invade, só ocupa, e limita as ações às “terras improdutivas”.
Há controvérsias. E é delas que derivam os riscos políticos do próximo “Abril Vermelho”.
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